Você já pensou em fazer os processos de recrutamento e seleção na sua empresa sem ter acesso a dados como idade, sexo, endereço e outras informações pessoais dos […]
Você já pensou em fazer os processos de recrutamento e seleção na sua empresa sem ter acesso a dados como idade, sexo, endereço e outras informações pessoais dos candidatos? Pois é exatamente isso que prega a avaliação às cegas — um novo método de seleção que tem sido amplamente usado no exterior e que ainda está engatinhando aqui no Brasil.
Grandes empresas e startups de sucesso, como a Nubank e a GE, já incluíram a avaliação às cegas para a seleção de alguns cargos nas suas filiais brasileiras, e o resultado tem sido positivo, melhorando a diversidade das equipes e aumentando as contratações baseadas no desempenho e no conhecimento técnico do candidato.
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O que é avaliação às cegas e como ela tem sido usada nas empresas?
Nome, idade, experiências anteriores, preferências políticas e até a imagem do candidato — tudo isso fica de fora da contratação às cegas. O que interessa no processo é exclusivamente as habilidades de cada pessoa e o quanto ela está preparada para assumir o cargo.
Para isso, as empresas têm usado várias estratégias que vão das mais simples, como evitar pedir fotos junto dos currículos, até o uso de softwares específicos que fazem a triagem dos currículos e os coloca em modo anônimo para serem avaliados pelos recrutadores.
Isso elimina o que chamamos de “viés inconsciente”, ou seja, a visão de que apenas determinado tipo de pessoa pode ocupar tais cargos, como mulheres com certa aparência para funções de atendimento ao público, por exemplo.
Quais são as vantagens e as desvantagens de investir nesse método?
Maior produtividade
Sem se importar com o gênero, a cor da pele, a faculdade em que o candidato estudou ou ainda as experiências anteriores, os processos de seleção acabam focando apenas na capacidade e no talento de cada um para realizar o serviço.
Isso, claro, gera times mais produtivos e engajados. Principalmente em áreas nas quais o talento nato para realizar determinadas tarefas é o mais importante (até mais do que as capacidades de relacionamento ou de persuasão do candidato), como nas áreas de tecnologia, como TI e desenvolvimento de software.
Mais diversidade
Ter uma empresa com times diversificados é fundamental para que todos convivam bem e para o negócio em questão. Com a avaliação às cegas isso é possível, permitindo que pessoas que nem sempre têm as mesmas chances nos processos tradicionais consigam se destacar unicamente pelos seus talentos, como o público LGBT, os negros, os deficientes, as mulheres e as pessoas mais velhas.
Quanto mais diversificado for o time, maior será o potencial de essas pessoas sentirem satisfação no trabalho e na empresa em que estão, aumentando o que chamamos de employer branding, ou seja, a imagem da companhia como uma boa recrutadora — melhorando, também, sua capacidade de atrair e reter talentos.
Desconhecimento da personalidade
Nos casos em que todo o processo seletivo é feito às cegas, o recrutador não saberá como é a personalidade do candidato e nem se os seus valores condizem com os da empresa.
Isso pode gerar dificuldades de relacionamento com os demais colaboradores e falta de reconhecimento e de integração com a cultura empresarial, levando a dificuldades para atingir as metas e até para o candidato se sentir bem na empresa em questão.
Como implantar a avaliação às cegas?
Se você achou a avaliação às cegas uma forma de recrutamento interessante, existem alguns passos importantes que devem ser seguidos para implantar esse método.
Primeiramente, é fundamental você começar evitando solicitar fotografias dos candidatos junto dos currículos, já que a fisionomia e os traços pessoais não serão levados em conta.
Em seguida, será preciso usar um software de recrutamento às cegas, que retirará dos currículos todas as informações pessoais, como nome, sexo, idade, endereço, formação e experiências profissionais.
A partir disso, os currículos serão enviados aos recrutadores, que deverão apenas analisar as qualificações técnicas de cada um. Nesse ponto, o próprio software poderá fazer uma pré-seleção daqueles que são mais interessantes ao seu negócio.
É muito comum que as empresas utilizem uma espécie de teste anônimo com algo que deverá ser feito no dia a dia do cargo e avaliem apenas o desempenho do candidato nessa “prova”.
Esse teste também poderá ser uma redação ou até uma entrevista estruturada às cegas, com as mesmas perguntas para todos os candidatos, com questões que focam exclusivamente na capacidade técnica de cada um.
Em algumas empresas, após essa fase, os candidatos passam por uma entrevista presencial para ver se eles estão alinhados com a cultura da companhia, desde que os recrutadores sejam treinados para deixarem de lado os preconceitos e estereótipos, evitando que todo o processo seja perdido.
Como esse método tem sido usado no mercado?
Embora no Brasil a avaliação às cegas ainda seja uma forma bem tímida de contratação, existem exemplos de empresas que estão a utilizando com sucesso, como é o caso da Nubank.
A empresa de tecnologia financeira implementou a contratação às cegas em março de 2016 para o processo seletivo de engenheiros de softwares e soluções móveis, avaliando os candidatos por meio de um exercício de lógica. Após a correção desse exercício, os pré-selecionados passaram por uma entrevista pessoalmente com os recrutadores.
Em 2017, de acordo com os dados apresentados à Valor, a Nubank realizou cerca de 10% das suas contratações com esse método, e o resultado foi times diversificados e de alta performance.
Outro exemplo é a GE Brasil, que, desde 2017, já utilizou a técnica em mais de 30 processos seletivos que visaram recrutar trabalhadores para os postos nas fábricas e para técnicos de campo, profissões habitualmente realizadas apenas por homens, mais por um estigma social do que pela capacidade técnica.
Hoje, a GE estuda ampliar a contratação às cegas para outros cargos, como para os setores administrativos.
A avaliação às cegas é uma opção válida para a realidade brasileira?
Apesar dos exemplos de empresas brasileiras que utilizam o método de contração às cegas, ainda é preciso cuidado e atenção para usar essa forma de seleção, garantindo que as políticas internas de respeito e valorização à diversidade sejam sólidas.
Se a empresa não tiver esse respeito à diversidade na sua cultura organizacional os novos trabalhadores podem sofrer preconceito dos que já estão na casa há mais tempo, gerando mais problemas do que soluções.
Além disso, é preciso se questionar até que ponto a sua empresa está preparada para se livrar dos estigmas sociais e raciais e abraçar times diversificados, mas que sejam capazes de produzirem mais e melhor.
Outro ponto primordial é o treinamento dos recrutadores, já que em muitos processos às cegas eles precisam também realizar entrevistas com os candidatos. Se os recrutadores ainda tiverem uma visão arraigada sobre o perfil para o cargo, envolvendo preconceitos, a avaliação às cegas não funcionará.
Assim, é preciso refletir se, hoje, a nossa sociedade está preparada para processos diferentes de seleção e, principalmente, para conviver com a diversidade.
E, então, gostou de saber mais sobre a avaliação às cegas? Aproveite e leia o nosso conteúdo sobre como definir o perfil do candidato e continue a refletir sobre o tema!