Em um cenário onde a velocidade da informação desafia até os executivos mais experientes, a capacidade de sintetizar uma estratégia corporativa em uma única visualização clara emerge como uma habilidade crítica de liderança. Mais do que um exercício de design, essa prática representa uma virada de chave na forma como organizações comunicam sua lógica de crescimento e tomam decisões com base em alinhamento estratégico real.

Segundo uma análise divulgada pela Harvard Business Review (HBR), apresentações que conseguiram traduzir a estratégia empresarial em imagens simples e bem estruturadas geraram maior aceitação dos investidores. O estudo avaliou 654 apresentações de aquisições e constatou que "aquelas que incluíam uma visualização convincente da lógica estratégica do negócio recebiam respostas mais favoráveis dos investidores."
Esse dado reforça uma convicção que vem ganhando força entre CEOs e conselhos: a clareza estratégica não é apenas desejável, é essencial e começa com a forma como ela é representada visualmente.
A liderança que sabe traduzir estratégia em imagem, governa melhor
O desafio da liderança executiva atual não está apenas em formular estratégias robustas, mas em articular e compartilhar essas direções de forma que acionistas, gestores e times operacionais compreendam e se engajem. A visualização estratégica, nesse contexto, deixa de ser um recurso ilustrativo para se tornar um instrumento de governança.
A maioria dos executivos concorda que a estratégia de negócios é um conjunto de escolhas sobre como e onde uma empresa deseja criar valor e competir. Mas, como afirmam os autores da HBR, muitos esquecem que a estratégia também requer uma interpretação clara do que essas escolhas implicam. É nesse ponto que entra o conceito de sensemaking, do psicólogo organizacional Karl Weick: a construção de um "mapa cognitivo" que organiza a compreensão dos líderes sobre clientes, concorrentes, capacidades e relações de causa e efeito.
Criar esse mapa, no entanto, é apenas o primeiro passo. A verdadeira estratégia ganha vida quando esse modelo mental é compartilhado com toda a organização. A transição do sensemaking para o sensegiving é vital: como ressaltam os autores, “se os funcionários não fizerem escolhas diferentes como resultado de uma nova estratégia, então não há uma nova estratégia.”
Reforçar esse entendimento coletivo exige muito mais do que palavras. A pesquisa da HBR indica que o uso de visualizações claras e estruturadas aumenta significativamente a capacidade de stakeholders absorverem e aplicarem a estratégia.
O caso Capitec: uma estratégia desenhável é uma estratégia replicável
O exemplo do banco sul-africano Capitec ilustra a força de uma estratégia visualmente coerente. Fundado nos anos 2000, o banco enfrentou um mercado dominado por quatro grandes instituições e escolheu focar em um segmento negligenciado: pessoas de baixa renda sem acesso bancário.
Sua proposta de valor baseava-se em uma conta única e simples, apoiada em quatro subconceitos interdependentes: preço acessível, simplicidade, acessibilidade e atendimento personalizado. Esses conceitos foram operacionalizados em uma estratégia concreta, como redes de agências com comunicação visual acessível, tecnologia intuitiva e cultura acolhedora. O resultado: lucro no primeiro ano, rápida escala e reconhecimento internacional.
Essa lógica foi organizada em um slide de estratégia que mostra, de forma clara, como clientes, proposta de valor e recursos internos se conectam em uma dinâmica integrada e lucrativa.
Os cinco princípios de uma visualização estratégica eficaz
Baseados em estudos com executivos e análise de desempenho de empresas, os autores da HBR propõem cinco princípios concretos de design estratégico visual:
- Agrupe ideias em três ou quatro pilares principais: o cérebro humano processa melhor estruturas simples e interconectadas.
- Crie camadas com detalhes crescentes: permita que cada nível traga implicações operacionais e decisões práticas.
- Use cores e sombreamento apenas para distinguir camadas: evite ruídos visuais e mantenha o foco na hierarquia de ideias.
- Indique relações claras entre os elementos: as conexões importam tanto quanto os conceitos em si.
- Organize a estrutura horizontalmente: a disposição respeita como nosso cérebro foi programado para ler paisagens e extrair significado.
Visualizações que seguiram esses princípios mostraram aumento de 64% no entendimento da estratégias no mercado de ações.
Executivos precisam ser contadores visuais de histórias
Para a deBernt, que atua diariamente ao lado de líderes em transformação, esse movimento representa mais do que uma tendência: é um convite à liderança narrativa, onde visão estratégica se alia à competência comunicacional.
Conseguir “falar estratégia” não apenas por meio de discursos inspiradores, mas também por meio de representações visuais objetivas e consistentes, torna-se parte do novo arsenal de habilidades executivas. Como diria Peter Drucker, “o mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito” — e nesse caso, ver o que ainda não foi visualizado.
Fonte: Harvard Business Review