Transições de Liderança: como superar gargalos e preparar líderes para o futuro

O artigo aborda o conceito de transições críticas de liderança, destacando como a falta de preparo entre os níveis operacional, tático e estratégico gera gargalos de gestão, perda de talentos e risco de descontinuidade. Aline Rigo, Partner na deBernt, propõe práticas estruturadas para garantir continuidade e sucessão executiva como ativo estratégico.

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Por Aline Rigo, Partner na deBernt

O crescimento sustentável de uma organização depende menos de planos sofisticados e mais da capacidade real de seus líderes em transformar visão em execução. Nesse contexto, o conceito de Pipeline de Liderança, difundido por Ram Charan, trouxe contribuição decisiva ao demonstrar que cada nível de liderança exige uma mudança de competências e mentalidade.

Mais do que um modelo de gestão, o que está em jogo são as transições críticas de liderança, momentos em que o líder precisa se reinventar para lidar com novos graus de complexidade. Ignorar esses gargalos gera um efeito cascata: líderes inseguros, equipes desmotivadas, sucessão improvisada e, no limite, risco de descontinuidade do negócio.

Do Operacional ao Tático: o primeiro gargalo

A passagem do nível operacional para o tático é uma das mais críticas na carreira de liderança. O profissional que se destacava pela entrega individual precisa aprender a gerar resultados por meio da equipe.

Desafios mais comuns:

  • Excesso de microgerenciamento
  • Dificuldade em delegar e estabelecer autonomia
  • Feedbacks superficiais ou inexistentes
  • Ausência de rituais claros de governança do time

Para sustentar essa virada, é fundamental:

  • Implantar cadências de acompanhamento (reuniões semanais, indicadores claros)
  • Utilizar frameworks de delegação e autonomia
  • Estruturar conversas de desenvolvimento contínuo
  • Treinar líderes para a prática real de gestão de pessoas

Reflexão: sua organização depende de “heróis operacionais” ou já dispõe de líderes capazes de sustentar performance coletiva?

Do Tático ao Estratégico: o salto de complexidade

A transição seguinte não é apenas “subir um degrau”, mas mudar o jogo.
No nível tático, o foco está na eficiência e nas metas de área; no estratégico, o desafio é posicionar o negócio para o futuro.

Competências críticas incluem:

  • Pensamento sistêmico para compreender interdependências
  • Gestão de portfólio e alocação de recursos
  • Leitura de cenários e riscos além do horizonte imediato
  • Influência cultural, moldando símbolos e decisões organizacionais

O erro mais comum é promover bons líderes táticos sem prepará-los para pensar estrategicamente e isso mantém a liderança presa no curto prazo.

Reflexão: sua empresa está cultivando gestores de eficiência ou estrategistas capazes de sustentar o futuro?

O impacto de não endereçar as transições críticas

Ignorar essas transições custa caro:

  • Desmotivação e perda de talentos em ascensão
  • Excesso de microgestão que bloqueia inovação
  • Falta de sucessores prontos em momentos críticos
  • Fragilidade na continuidade estratégica e cultural

A Pesquisa de Sucessão Executiva, realizada pela deBernt Business Intelligence, reforça esse cenário: apenas 24% das empresas têm plano estruturado de sucessão, enquanto 27% não possuem qualquer preparo para sucessores.

Esses dados revelam que a maioria das organizações ainda trata o futuro de forma reativa, quando deveria tratá-lo como um ativo estratégico.

Reflexão: sua organização está investindo em sucessão ou confiando no improviso?

Como estruturar transições de liderança robustas

Para garantir continuidade e crescimento, as organizações precisam tratar o desenvolvimento de líderes como uma agenda estratégica. Boas práticas incluem:

  • Mapear competências críticas em cada nível (operacional, tático e estratégico)
  • Avaliar talentos com evidências (psicometria, entrevistas estruturadas, 360º, performance)
  • Criar trilhas de desenvolvimento integradas ao negócio, priorizando experiências práticas (modelo 70-20-10)
  • Mensurar impacto real com indicadores como bench strength, tempo de rampa, mobilidade interna e engajamento dos liderados
  • Integrar sucessão à estratégia corporativa, levando o tema aos fóruns executivos

Reflexão: quais métricas hoje comprovam, para o conselho ou comitê executivo, o retorno do investimento em liderança?

Liderança não é cargo, é processo

Processos não acontecem por acaso: exigem disciplina, intencionalidade e visão de futuro.
As transições críticas de liderança mostram que cada passagem demanda novos comportamentos, habilidades e mentalidades. Sem apoio, líderes travam. Com suporte, tornam-se multiplicadores de resultados.

Organizações que tratam esse tema como pilar estratégico não apenas preparam sucessores, elas criam condições para que sua estratégia sobreviva, sua cultura se fortaleça e seu futuro seja sustentável.