Atuando com Outplacement, a cada dia fica mais forte a certeza do quanto perder um emprego é um processo de dor e sofrimento para quem passa, […]
Atuando com Outplacement, a cada dia fica mais forte a certeza do quanto perder um emprego é um processo de dor e sofrimento para quem passa, especialmente para pessoas que dedicaram anos de suas vidas para uma única empresa.
Nos muitos atendimentos que realizei a profissionais que passaram por essa situação, o sentimento que mais ouvi foi de arrependimento. Arrependimento por não ter acompanhado o crescimento dos filhos, por ter viajado a trabalho no dia do aniversário de casamento, por não ter passado mais tempo com o pai que morreu de câncer, por não ter vivido a própria vida e sim a vida da empresa.
Ser desligado também pode produzir, muitas vezes, um sentimento de traição. O profissional sente como se toda a dedicação oferecida durante tanto tempo, naquele momento não fosse relevante. E de pessoas importantes e imprescindíveis que se sentiam, passam a se sentir apenas mais um que passou por aquela empresa, apenas um número. A autoestima é abalada, especialmente se o profissional não entende qual foi o motivo de sua saída.
Você deve pensar que com gestores isso não acontece, não é? Afinal, eles recebem feedbacks, treinamentos, passam por processos de desenvolvimento, tem autoconhecimento elevado, parece óbvio que ele sabe o motivo pelo qual foi desligado. Mas a verdade é que isso é mais comum do que você imagina.
Não podemos simplesmente chegar um belo dia para um profissional que atuou durante 20 ou 30 anos na mesma empresa e dizer que ele está sendo desligado por seu comportamento inadequado, porque está sendo resistente às mudanças e aos avanços da tecnologia, ou ainda porque sentiu que ele não concorda com uma gestão mais jovem e se mostra altamente crítico. Se ele nunca foi preparado por que foi promovido a um cargo de gestão? Quem errou, se durante tantos anos ele nunca soube quais pontos ele precisava desenvolver?
O papel de quem conduz o processo de desligamento não é simples, e começa muito antes da decisão.
No meio de tantas entregas, metas e urgências não é fácil parar para pensar no desenvolvimento de cada membro da equipe, mas é necessário. O acompanhamento do desempenho e os feedbacks frequentes são a melhor forma de alertar o profissional. Ainda que não seja confortável para o gestor, a transparência é o melhor caminho, e deve acontecer em todas as etapas da carreira do profissional na organização. Assim, por mais que sua autoestima seja abalada após um desligamento, ao menos ele saberá o que poderá fazer de diferente em um novo desafio.
Adriane Lourenço é consultora em Executive Search na De Bernt com experiência em processos de transição de carreira de executivos em Middle e Top Management.