No centro da transformação organizacional, líderes intermediários se reinventam como catalisadores da mudança e guardiões da cultura.

Por muito tempo, os gerentes médios foram vistos como peças intermediárias: executores da estratégia do topo e supervisores da operação da base. No entanto, à medida que a automação avança, as estruturas se achatam e o ritmo das mudanças aumenta, essa camada organizacional entra em xeque. Será que a média gestão ainda é necessária? Ou estaria caminhando para a obsolescência?
A resposta não é simples. Embora algumas empresas já tenham iniciado cortes nesse nível hierárquico — 44% dos profissionais nos EUA dizem que suas organizações reduziram posições de gerência média, segundo a Korn Ferry — os dados mostram um paradoxo: a proporção de gerentes médios na força de trabalho americana cresceu de 9,2% em 1983 para 13% em 2022. Ou seja, apesar das previsões sobre seu fim, o papel desses profissionais nunca foi tão central.
Mas o que justifica essa permanência? A resposta começa a aparecer quando analisamos como, na prática, esses líderes vêm se reinventando.
Do controle ao protagonismo: a reinvenção do gerente médio
Em contextos marcados por incerteza, o valor da média gestão vai muito além da supervisão. Professores da Harvard Business School destacam que esses líderes atuam como sensores estratégicos do negócio: conectam a alta liderança às necessidades dos clientes, guiam equipes na adaptação às tecnologias e ajudam a transformar direcionamentos estratégicos em comportamentos concretos.
Isso ganha ainda mais força frente à crescente automação. O Gartner prevê que 20% das empresas usarão IA para achatar estruturas hierárquicas até 2026, eliminando mais da metade dos cargos de média gestão em alguns casos. Mas, paradoxalmente, à medida que a tecnologia assume tarefas operacionais, cresce a importância de lideranças que saibam interpretar dados com sensibilidade humana e orientar seus times em decisões mais complexas.
Em ambientes de transformação digital, por exemplo, os gerentes médios têm sido decisivos não apenas na adoção de novas ferramentas, mas na forma como essas mudanças são percebidas — deixando de serem vistas como imposição tecnológica para se tornarem oportunidades de evolução profissional.
Quando o middle manager é invisível, a estratégia falha
Ainda assim, muitas organizações não estão aproveitando o potencial dessa camada. Sobrecarregados com tarefas administrativas e pouco envolvidos em decisões estratégicas, os gerentes médios acabam mal posicionados para desempenhar as funções mais relevantes do seu papel.
A consequência aparece nos dados: a pesquisa da Gallup identificou que os gestores de média liderança sofrem a maior queda de engajamento entre todos os níveis hierárquicos, com altos índices de esgotamento e insatisfação. Além disso, ainda é comum que esses profissionais sejam promovidos com base em competências técnicas — como bons resultados em vendas — sem considerar habilidades essenciais como mediação, mentoria e visão de negócio.
Sem autonomia, formação ou reconhecimento alinhado ao novo escopo de suas responsabilidades, esses líderes se tornam invisíveis nos momentos em que deveriam ser protagonistas da mudança.
Eficiência com protagonismo: o papel estratégico da média gestão
O desafio, portanto, não é eliminar a média gestão, mas redesenhá-la. Isso passa por revisar critérios de estrutura, como evitar o chamado middle manager creep — o inchaço hierárquico sem propósito. Empresas como a Amazon, por exemplo, limitam essa camada a no máximo 15% da força de trabalho, com média de 6 a 10 subordinados por gestor, a fim de manter a agilidade e a clareza organizacional.
Mas tão importante quanto o dimensionamento é a clareza de propósito. A média gestão do futuro será menos fiscalizadora e mais desenvolvedora; menos operacional, mais estratégica. Será responsável por facilitar colaboração, promover upskilling, apoiar a transição cultural e garantir que a tecnologia sirva às pessoas — e não o contrário.
Próximos passos para as empresas
Para que isso se torne realidade, é preciso investir em formação, critérios de seleção mais assertivos e reconhecimento baseado em entregas estratégicas — como capacidade de gerar engajamento, facilitar mudanças e atuar como elo entre áreas.
É nesse ponto que o trabalho da deBernt se insere: apoiando organizações na identificação, desenvolvimento e reposicionamento de suas lideranças intermediárias com base em competências críticas e visão de futuro. Em um mundo cada vez mais dinâmico, são esses profissionais que sustentam a transformação com equilíbrio entre performance, cultura e adaptabilidade.
A média gestão não é obstáculo à inovação. É, cada vez mais, sua principal aliada.
Fonte: Harvard Bussiness Review | What's the Future of Middle Management?