A ascensão da co-liderança reflete um novo paradigma para empresas que enfrentam desafios complexos. O modelo, que divide a responsabilidade entre dois líderes seniores, amplia a capacidade estratégica e fortalece a resiliência, mas exige intencionalidade no design e disciplina na execução.

O avanço da complexidade nos negócios tem levado empresas a explorar modelos de co-liderança, apostando em duplas de CEOs ou executivos seniores para compartilhar a carga cognitiva e operacional exigida no topo das organizações. De acordo com artigo publicado pela Harvard Business Review, casos recentes, como a decisão da Oracle de nomear Clay Magouyrk e Mike Sicilia como co-CEOs para conduzir a companhia na era da IA, reforçam a tendência de unir expertises complementares.
Esse modelo, ainda que não seja novo, vem ganhando protagonismo em empresas que precisam equilibrar demandas globais e locais, inovação e eficiência, visão estratégica e execução. Mas, como destaca a HBR, o sucesso da co-liderança não depende do conceito em si, e sim do design organizacional, do alinhamento entre os líderes e da disciplina na execução.
Por que compartilhar a liderança faz sentido agora
O modelo tradicional de liderança única nasceu em um cenário de negócios menos dinâmico, com fronteiras competitivas mais claras. Hoje, CEOs enfrentam demandas sobre-humanas: liderar transformações digitais, inovar continuamente, manter excelência operacional e navegar por ambientes globais cada vez mais complexos.
Empresas como a Netflix e o Goldman Sachs mostram que dividir a liderança não é apenas repartir responsabilidades, mas potencializar áreas complementares de expertise. Enquanto Ted Sarandos se concentrava em conteúdo e expansão global na Netflix, Reed Hastings priorizava estratégia corporativa e tecnologia, um equilíbrio que ajudou a sustentar a escalabilidade da plataforma.
A co-liderança também fortalece a resiliência organizacional. Durante a crise de 2008, o Goldman Sachs aproveitou a estrutura de liderança compartilhada para responder à crise e manter a continuidade estratégica, evitando gargalos em decisões críticas.
O que faz a co-liderança funcionar
O artigo da Harvard Business Review ressalta que acordos bem-sucedidos compartilham características em comuns:
- Experiência complementar: unir competências técnicas e comerciais, como no modelo “dois em uma caixa” da Intel.
- Qualidade nas decisões: parceiros que desafiam suposições e elevam o rigor das escolhas estratégicas.
- Planejamento de sucessão: maior continuidade quando um dos líderes deixa a função.
Entretanto, falhas de alinhamento podem anular benefícios: ambiguidade de papéis, mensagens conflitantes a stakeholders e fragmentação interna são riscos recorrentes quando a governança não é clara.
Uma escolha de design estratégico
A co-liderança não é panaceia nem concessão. É uma resposta deliberada a desafios que excedem a capacidade de um único executivo. Quando tratada com intencionalidade, desde a divisão de responsabilidades até mecanismos claros de comunicação e resolução de conflitos, torna-se uma vantagem competitiva sustentável.
Em um ambiente que exige visão ousada e execução impecável, compartilhar a liderança pode ampliar capacidades, acelerar decisões e fortalecer a resiliência organizacional. Mais do que dividir o trabalho, trata-se de multiplicar competências e gerar impacto coletivo, uma prática que pode moldar a próxima geração de crescimento nas organizações.