O corte abrupto de recursos externos dos EUA ameaçou a sobrevivência da Save the Children U.S., organização humanitária com atuação global. Neste artigo em formato narrativo-institucional, a CEO Janti Soeripto revela como liderou a resposta à crise, combinando aceitação radical, gestão de caixa, engajamento estratégico e reforma organizacional. Uma lição prática de resiliência para líderes em contextos de ruptura.

Em janeiro de 2025, a Save the Children U.S., uma das maiores organizações humanitárias do mundo, viu-se subitamente diante de um colapso orçamentário. O governo dos Estados Unidos anunciou o congelamento da assistência ao desenvolvimento, verba que representava cerca de um terço do orçamento anual global da instituição.
A CEO Janti Soeripto, em exercício desde 2020, liderou a resposta a um dos maiores desafios institucionais da organização em seus mais de 100 anos de história. “Passamos por todos os estágios do luto. Mas sabíamos que precisaríamos agir como nunca antes”, afirmou.
Fase 1: Luto rápido, foco imediato
O anúncio foi feito no exato momento em que a liderança da organização se reunia em um retiro estratégico. A partir dali, os esforços se voltaram para mapear cenários: do “melhor caso”, com 70% do financiamento mantido, ao mais severo e confirmado depois com apenas 20% do previsto disponível.
Imediatamente, foi criada uma força-tarefa global para reavaliar programas, reorganizar fluxo de caixa e ajustar operações conforme as novas diretrizes.
Fase 2: Transparência e decisões difíceis
A comunicação interna tornou-se um pilar estratégico. Soeripto convocou reuniões semanais com todos os colaboradores para informar o que se sabia, o que ainda era incerto e como a organização reagiria.
Demissões, realocação de recursos e cancelamento de projetos foram inevitáveis, mais de 3.000 colaboradores em 50 países foram afetados. Ainda assim, a CEO foi enfática: “Cortar agora era a única forma de salvar o essencial depois”.
Fase 3: Recuperação com visão de futuro
Nos meses seguintes, a Save the Children entrou em um ciclo de recuperação ativa. A busca por fontes alternativas de financiamento foi intensificada, corporações, filantropos e novos doadores foram mobilizados.
Até maio, mais de US$ 16 milhões foram arrecadados em doações não-restritas, um aumento de 63% em relação ao mesmo período do ano anterior. Parte desses recursos foi usada para retomar projetos suspensos, como ações de proteção infantil em campos de refugiados na Síria.
Fase 4: Reformar para permanecer relevante
O trauma virou motor de transformação. A Save the Children acelerou a digitalização de processos, automatização de sistemas e estruturação de um modelo mais ágil e colaborativo, incluindo apoio a ONGs locais em países como o Sudão do Sul.
Segundo Soeripto, “a crise revelou ineficiências invisíveis. Sem pressão de mercado, organizações sociais precisam criar seus próprios indicadores de impacto, eficiência e decisão”.
Liderar na Ruptura: Quando o Caos se Torna Catalisador de Transformação
No fim, a jornada da Save the Children do colapso orçamentário até a renovação institucional ilustra na prática essas lições de liderança em tempos de ruptura. Com aceitação radical, Soeripto e sua equipe encararam de frente a dura realidade, o que permitiu uma reação rápida e direcionada. Essa postura veio acompanhada de flexibilidade estratégica, a equipe ajustou planos e operações ao novo contexto sem perder um foco claro em sua missão. Mostrando determinação com pragmatismo, a liderança tomou decisões difíceis, como cortes e reestruturações, baseadas no que era viável no presente, protegendo assim o futuro da instituição. Ao adotar uma visão em fases, Soeripto e sua equipe encararam a crise como um ciclo evolutivo: o choque inicial deu lugar a uma recuperação ativa e, em seguida, a reformas profundas que tornaram a Save the Children mais ágil e resiliente. Desse modo, de uma adversidade sem precedentes emergiu uma organização renovada, provando que uma liderança guiada por princípios sólidos pode transformar até mesmo a maior ruptura em uma oportunidade de reinvenção.
5 lições para líderes em tempos de ruptura
- Aceitação radical: encare os fatos, por mais duros que sejam.
- Flexibilidade estratégica: esteja pronto para absorver o choque e se adaptar.
- Foco claro: isole o que importa e elimine distrações.
- Determinação com pragmatismo: tome decisões com base no que é possível hoje.
- Visão em fases: crise, recuperação e reforma devem ser encaradas como um ciclo evolutivo.
Mais do que uma resposta à crise, a estratégia de Soeripto simboliza uma visão de mundo onde a adversidade não paralisa, mas acelera a inovação e o impacto social. A experiência da Save the Children nos lembra que, mesmo diante de choques globais e incertezas severas, é possível construir caminhos de reconstrução com coragem, clareza e colaboração. Como afirma Max Roser, citado pela própria CEO:
*“O mundo é horrível. O mundo é muito melhor. O mundo pode ser muito melhor.”
Esse é o chamado, não apenas para resistir ao colapso, mas para liderar a reforma.*