A “Arquitetura de profissionais” propõe substituir o modelo único de contratação por uma orquestração estratégica de competências, integrando CLT, TaaS, consultorias e freelancers. O conceito, defendido por Cris Sabbag, COO da Talento Sênior, amplia diversidade, promove inclusão geracional e aproveita melhor profissionais 50+. Mais que um contrato, é um pacto baseado em impacto, ética e colaboração, preparando empresas para o futuro do trabalho

Durante décadas, a CLT foi o alicerce das relações de trabalho no Brasil. Para profissionais, garantia e segurança; para empresas, previsibilidade e estabilidade. Mas, em um contexto marcado por automação acelerada, envelhecimento populacional e ciclos econômicos mais curtos, a mesma estrutura que antes era sinônimo de proteção pode hoje representar rigidez.
Segundo matéria publicada pela HSM Management, que traz a entrevista com Cris Sabbag, sócia e COO da Talento Sênior, empresa especializada no modelo as a Service (TaaS) e finalista do Prêmio Inovação Social da Fundação MAPFRE, de acordo com ela, já não se trata de escolher entre CLT ou PJ, mas sim de definir qual arquitetura de força de trabalho melhor atende ao momento e às necessidades estratégicas da organização.
Do cargo fixo à orquestração de capacidades
O conceito substitui a lógica tradicional de alocar profissionais em cargos fixos por uma visão sistêmica de orquestração de competências. Assim como um arquiteto projeta um espaço considerando fluxo, ergonomia e funcionalidade, empresas devem planejar sua força de trabalho com base em:
- Competências críticas;
- Orçamento e prazos;
- Riscos reputacionais;
- Impactos sociais.
Nesse modelo, o RH assume o papel de arquiteto organizacional, combinando diferentes vínculos profissionais com propósito e estratégia:
- CLT: garante continuidade, preserva cultura e acumula conhecimento institucional;
- As a Service (TaaS): profissionais sob demanda para desafios complexos e de alta especialização;
- Consultorias independentes: trazem metodologias, visão externa e neutralidade;
- Freelancers: ideais para demandas pontuais e ágeis.
O fim do “modelo único”
Para Cris Sabbag, a eficiência não está no formato isolado, mas na capacidade de integrar soluções. A CLT continua relevante, sobretudo quando há intenção de formar cultura, fortalecer vínculos e assegurar segurança jurídica.
O problema surge quando se aplica um modelo rígido em contextos que exigem mobilidade e foco temporário. Empresas maduras preservam o celetista onde faz sentido, mas não hesitam em acionar consultorias para obter imparcialidade ou contratar profissionais sêniores via TaaS quando a entrega requer experiência rara e resultado imediato.
Inclusão geracional e aproveitamento de profissionais 50+
Sob a ótica da trabalhabilidade 50+, a Arquitetura é ainda mais estratégica. Profissionais com mais de 50 anos frequentemente enfrentam dupla exclusão: são preteridos em seleções formais pela idade e, ao mesmo tempo, não recebem preparo para atuar em modelos autônomos como TaaS ou consultorias.
O resultado é um desperdício silencioso de inteligência organizacional, profissionais qualificados e disponíveis, mas invisíveis às estruturas tradicionais de recrutamento. Quando aplicada com intencionalidade, a Arquitetura abre espaço para composições diversas em idade, trajetória, origem e formato de contribuição, reduzindo esse apagão de competências.
Mais que contrato: um novo pacto simbólico
Na nova lógica, o valor de um profissional não é medido apenas pelo tempo de casa, vínculo jurídico ou crachá, mas pela capacidade de gerar impacto com ética, autonomia e colaboração.
O futuro do trabalho, reforça Sabbag, será construído por empresas que entendem que inteligência é também intergeracional e que inovação vai além da tecnologia, inclui repensar modelos, integrar saberes e redesenhar vínculos.
A Era da Arquitetura já começou, e as organizações que aprenderem a compor suas equipes com agilidade, propósito e inclusão estarão mais preparadas para construir o amanhã.