Você está vencendo batalhas ou definindo os rumos da guerra?

Em um ambiente de negócios marcado pela complexidade crescente, velocidade das transformações e pressão por resultados consistentes, muitos líderes ainda operam no modo reativo: respondem com eficiência a urgências, garantem entregas, mas se afastam do que mais importa, a estratégia.

Neste artigo, Aline Rigo, Sócia da deBernt, propõe uma reflexão essencial para organizações que desejam fortalecer sua liderança executiva: a diferença entre agir como um líder tático e exercer, de fato, um papel estratégico. Mais do que uma função, liderar estrategicamente exige uma mudança de mentalidade e coragem para abrir mão do controle em nome da escala.

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Por Aline Rigo – Sócia deBernt

“A tática lida com a forma da batalha individual, enquanto a estratégia lida com o seu uso.”

Li essa frase no livro Personal Branding e ela me acompanhou por dias. Ela resume, com precisão, uma das questões mais presentes no meu cotidiano no desenvolvimento de lideranças: a diferença entre agir como um líder tático ou estratégico e o impacto disso para o time, para o negócio e para o próprio profissional.

A conversa que revela o dilema

Recentemente, conduzi um processo com um líder altamente técnico. Competente, comprometido, conhecedor profundo do seu negócio. Mas toda a sua energia estava focada em resolver problemas, atender demandas urgentes e garantir as entregas do time.

Durante uma das sessões, após descrever uma rotina exaustiva e tomada por reuniões e imprevistos, ele suspirou e disse:

“Aline, eu entrego muito. Mas percebo que continuo sendo o ponto de controle de tudo. Sinto que estou sempre apagando incêndios…sem tempo para pensar na estratégia.”

Esse tipo de insight revela um gargalo comum: profissionais tecnicamente maduros, mas que ainda operam no modo tático, mesmo quando o cargo — e o contexto — exige decisões estratégicas.

O que diferencia o líder tático do líder estratégico?

🔹 O líder tático atua na execução.

Ele resolve o agora. Garante que a operação aconteça, responde a problemas com agilidade, cuida dos detalhes e faz o sistema rodar. É essencial em qualquer organização — especialmente nos níveis mais operacionais e na linha de frente.

🔹 O líder estratégico, por outro lado, olha o todo.

Ele conecta ações ao propósito, projeta cenários futuros, toma decisões estruturantes e sustenta uma cultura que gera resultados de forma consistente. Ele deixa de centralizar e passa a orquestrar. Em vez de perguntar “como eu resolvo isso?”, ele se pergunta “quem pode crescer resolvendo isso com autonomia?”

Ambos os perfis são importantes. Mas há algo que não podemos ignorar: quanto mais alto o nível de liderança, maior a expectativa de uma atuação estratégica.

Quando o técnico vira gestor  e continua sendo técnico

Esse descompasso é especialmente evidente quando um profissional é promovido pela excelência técnica, mas não é preparado para mudar sua forma de atuar. Ele continua resolvendo tudo, tomando todas as decisões, e operando no detalhe.

E o que acontece? O time perde autonomia e aprendizado. O líder se sobrecarrega, vive no modo reativo e sente que nunca tem tempo.

A estratégia fica em segundo plano ou pior: fica sem dono

Essa liderança até “funciona” no curto prazo. As entregas acontecem. Mas a médio e longo prazo, os impactos aparecem: desmotivação do time, baixa sucessão, pouco foco em inovação e dificuldade para sustentar crescimento.

Estratégia exige espaço, propósito e pessoas

A virada do tático para o estratégico não acontece com um novo cargo, mas com uma nova mentalidade. E ela começa por três movimentos conscientes:

1. Criar espaço para pensar:
Parar de resolver tudo é o primeiro passo para enxergar o que realmente importa.

2. Reconectar com o propósito da liderança:
Entender qual é o verdadeiro impacto esperado de seu papel — além das entregas operacionais.

3. Desenvolver o time:
Deixar de ser o ponto de controle para formar profissionais capazes de andar com autonomia. Uma provocação recorrente nas sessões de coaching resume essa transição:

Você está liderando para ser indispensável ou para se tornar cada vez mais dispensável?

Liderar com intenção: o futuro começa hoje

Liderança estratégica não é sobre ausência de ação é sobre agir com intenção. É trocar o controle imediato pela construção de escala. É deixar de vencer apenas batalhas e começar a definir os rumos da guerra.

Para isso, é preciso clareza, coragem e compromisso com o desenvolvimento contínuo.

“A tática lida com a forma da batalha individual, enquanto a estratégia lida com o seu uso.”

Essa reflexão continua ecoando. E você? Está operando como solucionador de urgências ou como arquiteto de futuro?